Eu sou formado em comunicação social com habilitação em Jornalismo. Desde o primeiro ano da minha graduação, contudo, roubei mercado de outros profissionais. Comecei em assessoria de imprensa (uma posição de Relações Publicas) e rapidamente me empreguei em Marketing (que é multidisciplinar, no entanto, mais vocacionado para egressos de PP do que para meus colegas de curso).
Minha profissão me dói afirmar, está em declínio.
O número de matriculados em Comunicação Social caiu de 190.308 em 2008 para 170.634 em 2015. Não consigo especificar a habilitação em jornalismo, mas certamente a procura pelo curso foi impactada pela decisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), por 8 votos a 1, de 17/06/2009, definindo que o diploma de jornalismo não é obrigatório para o exercício da profissão. Naquele momento todos se tornaram jornalistas. Coxinhas e Mortadelas.
Antes disso procura pela carreira já havia caído substancialmente. Desde 2004 a busca por “curso jornalismo” reduziu em quase 10x no Google.
Eu entendo que parte desse fenômeno seja consequência da crise da indústria da propriedade intelectual que abertamente discuto há anos em minhas palestras e em artigos como esse https://www.linkedin.com/pulse/o-necessário-redesign-do-serviço-de-educação-villas-bôas-albergaria/
Essa crise vem levando os veículos a um downsize sem precedentes.
2015: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/1-400-jornalistas-demitidos-em-2015/
2016: http://www.abi.org.br/2016-ano-tragico-para-a-imprensa-1-200-demissoes/
Ao ponto de colegas de profissão alugarem seus diplomas em market places de texto como https://www.textbroker.com.br/autores que leiloam laudas profissionalmente bem escritas remureando mal seus autores.
Mas o problema do jornalismo contemporâneo é mais que econômico, apenas.
No ímpeto de fugir da crise muitos veículos vêm monetizando seus espaços e sua fiabilidade (on line principalmente) para publishers diversos. “Quarteirizando” seu mais importante valor e seu mais importante diferencial: sua imparcialidade e sua marca.
Recentemente recebi um relatório de clipping de uma Assessoria de Imprensa.
Dezenas de links de dezenas de veículos entre eles baluartes da credibilidade como “Exame” e “Terra”.
Me chamou a atenção, em uma leitura pormenorizada das URLs das notícias, a onipresença da palavra DINO.
O DINO (acrônimo para Divulgador de Noticia) é um antigo e excepcional serviço de promoção de newsletters.
Com uma ampla rede de sites cadastrados atua no sortimento de serviço para as duas pontas da indústria de conteúdo: de um lado Relações Publicas querendo divulgar suas matérias, de outro sites querendo matéria prima para suas páginas (atendendo suas necessidades de otimização junto aos mecanismos de busca – aka Google).
Minha discussão não orbita no fato de 99% dos resultados do clipping que recebi virem de uma ferramenta de automação de compartilhamento de conteúdo (existem dezenas de outras – antes chamadas LinkFarms – como http://www.geralinks.com/e http://ocioso.com.br).
Fui, inclusive, usuário de muitas no posicionamento on line do site www.quemdisse.com.br (criado por mim e posicionado entre os 4 mil mais acessados do Brasil até sua venda em 2015).
O que questiono, nessa etapa desse artigo, é a generalização de marcas atreladas a credibilidade por meio da mecanização da promoção de notícias.
As próprias não se responsabilizam pelas informações DINO. Mas isso é irrelevante para o olho destreinado do cliente.
https://exame.abril.com.br/negocios/dino/ = (Este conteúdo de divulgação comercial é fornecido pela empresa Dino e não é de responsabilidade de EXAME.com)
Somente quem foi assessor de imprensa pré-DINO sabe a alegria da conquista de uma matéria na EXAME e somente quem é muito amador comemora um resultado .Dino nesse mesmo canal hoje.
Ainda assim trago para evidência esse miasma de fenômenos para contemporizar o nosso momento zero da profissão de jornalistas e tentar tecer uma justificativa de porquê, creio, ela nos salvará de nós mesmos.
Uma das coisas mais importantes repercutidas a exaustão pelos meus excepcionais professores da faculdade foi “a importância da imparcialidade”.
E cada vez mais a imparcialidade torna-se objeto de discussão na indústria que me adotou… a do Marketing Digital.
Esse tema ultra contemporâneo vem queimando os neurônios e os dólares dos cientistas de dados do vale do silício (https://www.theguardian.com/us-news/2017/oct/02/las-vegas-shooting-facebook-google-fake-news-shooter).
As Fake News são a ponta de um enorme iceberg de distorção da realidade (imparcial) e não existirão algoritmos suficientes para separar a verdade dos fatos quando ferramentas como https://www.youtube.com/watch?v=9Yq67CjDqvw se popularizarem nas discussões políticas regionais – além de todo o resto – e a verdade tornar-se um simulacro).
Aposto no aumento dos litígios e do crescimento das carreiras legais, mas aposto além!
Aposto que no ínterim. No intervalo entre os algoritmos estarem maduros ao ponto de perceberem essas distorções e a credibilidade das fontes voltarem ao mainstream.
E nessa ocasião a credibilidade emprestada pelos veículos – e principalmente pelos profissionais que juraram imparcialidade – voltará a ser o fiel da balança da realidade.
E nesse momento, por fim, gerações de jornalistas bem formados serão recrutados para reforçar a verossimilhança da imprensa livre e filtrar o frenesi da avalanche de noticias falsas e mentiras que tomarão as redes sociais e a internet. Porque esse tempo virá. Senão já é contemporâneo. E os jornalistas sempre seguirão o seu juramento atemporal:
Juro / exercer a função de jornalista / assumindo o compromisso / com a verdade e a informação. /Atuarei dentro dos princípios universais/ de justiça e democracia,/ garantindo principalmente / o direito do cidadão à informação. / Buscarei o aprimoramento / das relações humanas e sociais,/ através da crítica e análise da sociedade,/ visando um futuro/ mais digno e mais justo/ para todos os cidadãos brasileiros./ Assim eu Juro.