Um paradoxo que vêm acentuando-se nos últimos anos diz respeito ao enfoque da formação universitária. O resultado do Ensino Superior deve ser um conhecimento global, abrangente e humanístico ou o desenvolvimento de competências de alto valor para o mundo do trabalho? O que diferiria, nesse caso, o Ensino Superior do Técnico? E como comunicar formação holística para uma audiência que valoriza a empregabilidade?
Os educadores sabem que é mais importante formar cidadãos no sentido mais amplo que profissionais obtusos e segmentados. Até porque cidadão mais bem formados, em sua dimensão humana e teórica, tornam-se os melhores e mais requisitados profissionais do mercado.
Um paradoxo que vêm acentuando-se nos últimos anos diz respeito ao enfoque da formação universitária. O resultado do Ensino Superior deve ser um conhecimento global, abrangente e humanístico ou o desenvolvimento de competências de alto valor para o mundo do trabalho?
Os educadores sabem que é mais importante formar cidadãos no sentido mais amplo que profissionais obtusos e segmentados.
O próprio conceito de Universidade chancela e qualifica tudo o que é universal e a missão social dessa organização não restringe-se a formação profissional.
Ao mesmo tempo em que defende a formação para valores mais profundos que apenas “técnicas específicas” os Docentes e Acadêmicos em geral, são cobrados pelo mercado sobre “performance de empregabilidade” e “inserção profissional”. As pesquisas sócio educacionais são diretas na “expectativa dos alunos com a graduação: melhoria da qualidade de vida e profissional”.
A missão da universidade deve ser criar condições para que seus estudantes conquistem seus objetivos profissionais e, por meio deles, sua felicidade. Por vezes a universidade aproxima sua comunidade da felicidade, não apenas por meio da formação. Muitos estudantes fazem amigos, viajam, namoram e casam durante sua passagem pelo Ensino Superior. São lembranças para toda a vida e o impacto da universidade na vida de seus alunos beira a eternidade.
Restringir a formação e o enfoque a “profissionalização” é portanto equivocado. Por mais que os alunos respondam que esperam somente o conhecimento específico, é importante que tenham outros princípios desenvolvidos em sua passagem pela IES.
Recentemente uma série de pesquisas tiveram a pretensão de encontrar a resposta a essa questão milenar da condição humana: “A Busca pela Felicidade”.
Enquanto para os materialistas de plantão o caminho passa impreterivelmente por bens e serviços (notebooks, celulares de 10ª geração, televisões de plasma, SUVs, Apartamentos Loft, Cirurgias Plásticas, Fast Food, Fast Love etc), os recentes estudos espiritualizam um pouco mais a resposta.
Apontam que a felicidade não necessariamente esteja tangibilizada na forma de objetos de consumo e que o verdadeiro êxtase pouco tem a ver com bens físicos e materiais.
Não que a miséria seja o caminho. Pelo contrário. É mais complexo falar de Felicidade quando falta o essencial, dizem os cientistas. Mas ao contrário do que pensamos na maior parte do mundo capitalista, o excesso não é o único caminho. Isso é o que afirma o economista britânico Richard Layard em seu livro “Happiness: Lessons From a New Science”.
Segundo os estudos desenvolvidos por Layard no último século os EUA viram crescer a renda, o poder de compra e a criação e democratização de luxos para a média da sua população, com uma força sem precedentes na história da humanidade. Esse crescimento não acarretou em um aumento proporcional ou correspondente no sentimento de contentamento, contudo.
Em vez disso, nos últimos 50 anos, os norte americanos vivem em uma linha reta de felicidade, que ele chama em seu livro de “platô da felicidade”. O cientista pondera alguns pontos interessantes que deveriam ser melhor esclarecidos nas salas de aula do Ensino Superior:
– A felicidade é um parâmetro e nós costumamos comparar nossa condição (as coisas que possuímos) com as das outras pessoas em busca de referenciais.
– A superexposição a televisão, e suas fórmulas mágicas de felicidade industrializada pela publicidade tende a criar no consciente coletivo uma insatisfação generalizada. Afinal nada nunca está tão bom como na propaganda e a grama dos atores da Globo tende a ser sempre mais verde na telinha. A audiência é estimulada a confundir necessidades com vontades e a felicidade tende a ser um ideal construído em algum núcleo de dramaturgia.
– Layard conclui que quanto mais televisão se assiste menos feliz se é.
A saída segundo o cientista e na opinião de outro autor (o professor de governo de Harvard Robert Putnam no livro “Bowling Alone”) está em:
– Maior socialização e interação com as pessoas que amamos (amigos, família) e menos individualismo (televisão é uma atividade que exercemos sozinhos).
– Maior investimento na comunidade e menos ênfase em ter e mais em dar.
Sob a perspectiva social os autores afirmam que a humanidade atravessará um período de renascimento espiritual ou de um sentido maior de solidariedade entre as pessoas.
Além do excesso de mídia e individualização existem outras barreiras no caminho para a felicidade. Entre eles a configuração do mundo do trabalho. As mudanças drásticas na forma de trabalhar e a cobrança crescente por resultados.
Preparar os alunos para esses dilemas da vida adulta e para conseguirem extrair mais de suas vidas deveria ser uma responsabilidade das Instituições de Ensino Superior privadas.
Inovar nos conteúdos de forma a conciliar as necessidades de formação para o exercício profissional com os valores maiores. Afinal a felicidade reside no equilíbrio. E é fundamental que as IES inovem no seu serviço de maneira a contribuir de forma determinante na jornada da vida de seus estudantes. Mudando um pouco o enfoque do material para o humano.
Não que nós não tenhamos sido avisados da importância dessa mudança ainda em nossa infância. Quem afinal não se lembra do Urso, amigo do Mogli, no desenho da Disney cantarolando o essencial:
“Eu uso o necessário/ somente o necessário/ o extraordinário é demais/ Necessário, somente o necessário/ por isso é que esta vida eu vivo em paz…”